segunda-feira, 12 de outubro de 2009

VELHO ABANDONADO

A vida tem destas coisas. Sempre pensamos que os nossos problemas são piores que o dos outros, e que as coisas más só acontecem a nós. Estava eu, no autocarro, a caminho do trabalho, como acontece todos dias úiteis da semana, e para não variar nessas viagens, consumo as historias/desabafos de vidas alheias, tão íntimas que parecem as nossas ou de alguém que conhecemos.

Neste caso, que aconteceu a semana passada, na viagem laranjeiro/cacilhas, um idoso/velho, desabafava com um amigo/vizinho a tristeza que se tornou a sua vida. Se por um lado os portugueses são um povo que adora, e passa a vida a queixar-se de si próprio (por tudo e por nada), também é um povo que sabe, e consegue (quase sempre) desenrascar-se.

Voltando ao velho, cujo tema da conversa era, como sempre nos últimos tempos, dinheiro, salário (pensão/reforma neste caso, governo, crise, etc). Depois de falarem da situação do País, dos corruptos no governo, nos chulos na assembleia e nos mentirosos da política, a conversa começou a ficar mais pessoal. E eu, como outros no autocarro, somos obrigados a ouvir todas as historias, tal "Você na TV – da TVI" ou "As Tardes da Júlia", ou mesmo "Fátima – da SIC".

O nosso narrador começou a queixar-se, que não sabia o que havia de fazer com a miséria que recebia de reforma. Os 55 contos não chegavam para quase nada, tendo em conta que trabalhou a vida inteira mas recebe uma miséria, que tem de chegar para ele e a esposa, que não recebe reforma porque não descontou o suficiente.

Com os 81 anos que tem vai fazer o quê? "Trabalhar nas obras? Dizia ele. O seu companheiro só ouvia, e comentava "Isso realmente, é indecente. Onde vai parar este País?". O velho lá continuava a por culpa em todos, no País, nos Governo e nos próprios filhos. "Tenho 6 filhos, todos rapazes, ainda tenho 11 netos e 6 bisnetos. Mesmo assim ninguém nos ajuda." Sobe de tom com ar de revolta. "Cambada de bandidos". Concluiu. "Ninguém ajuda?" Exclama o outro. "Isso realmente!"

"O pior ainda é que eu nasci na Ajuda, em Lisboa" Diz o velho indignado. "Eu nasci na Ajuda". Nisso o amigo retorquiu com uma expressão de gozo, "Ahm, ainda por sima o senhor é da Ajuda!" Dito isto, despediu-se do velho, pois já tinha chegado a sua paragem. Desejou boa sorte ao amigo, que permaneceu mais duas paragens no autocarro, fazendo a viagem sempre de pé, vocejando palavras imperceptíves, pelo menos do sítio onde eu me encontrava.(Sim, eu estava no autocarro, a ouvir esta conversa como tantas outras que ouço, menos ou mais interessantes, umas sem sentido, outras descabidas e contadas no sitio errado na hora errada).

Eu fui à minha vida e o velho de certeza foi tratar da vida dele pensando e fazendo contas à vida.

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Pamodi Dodu na

Dja dura ki n tinha na menti mostra, pa tudu alguem ki kre odja, kuzaz ki n sabi fazi I kuzaz ki n gosta. Primeru n pensa na um site. Klaru “Boa ideia”. Fazi um site é ka kuza fasil, pa alguem sima mi intom ki ta pensa na mil kuzaz au mesmu tempu, site nunka maz ka ta fikaba pronto, pamo n kria poi munti kuza. Saber mais...